segunda-feira, 14 de julho de 2008

Filósofo do mês: Montaigne



"O principal efeito da força do hábito reside em que se apodera de nós a tal ponto que já quase não está em nós recuperarmo-nos e refletirmos sobre os atos a que nos impele. Em verdade, como ingerimos com o primeiro leite hábitos e costumes, e o mundo nos aparece sob certo aspecto quando o percebemos pela primeira vez, parece-nos não termos nascidos senão com a condição de nos submetermos também aos costumes; e imaginamos que as idéias aceitas em torno de nós, e infundidas em nós por nossos pais, são absolutas e ditadas pela natureza. Daí pensarmos que o que está fora dos costumes está igualmente fora da razão, e Deus sabe como as mais das vezes erramos. Se, como nós que estudamos, aprendemos a fazê-lo, todos, ao ouvirem judiciosa observação, aplicassem o ensinamento no que lhes diz respeito, veriam, incontinenti, que não constitui simples frase bonita, mas é verdadeira chicotada na tolice habitual de nosso julgamento. Mas recebemos as advertências da verdade como se se endereçassem aos outros e não a nós mesmos, e, em vez de aproveitá-las a fim de melhorar os nossos costumes, nós nos contentamos, muito tola e inutilmente, em a catalogar na memória." (Montaigne,Ensaios, Capítulo XXIII,página 61)

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