Sponville no livro "Apresentação da Filosofia" dedica um de seus capítulos para discorrer sobre as razões do ateísmo. De início mostra que há dois tipos de ateísmo: o negativo, aquele que não crê em Deus, e o positivo, aquele que crê que Deus não existe. Para dar a razão desse último ele esboça alguns argumentos interessantes:
1. A fraqueza dos argumentos dos teístas
Os teístas possuem tantos argumentos como experiências fracas. Se Deus existísse devería-se vê-lo e sentí-lo mais. Ao argumento teísta de que "se Deus se mostrasse em toda sua glória não seríamos livres para crer Nele ou não, ou duvidar",Sponville contrargumenta que:
a) Se ser livre é poder duvidar seríamos mais livres do que Deus por que ele jamais duvidaria de si mesmo.
b) Os profetas de acordo com relatos bíblicos tinham um contato mais próximo de Deus entretanto havia espaço em suas vidas para inúmeras duvidas e incertezas.
c) Sempre há menos liberdade na ignorância do que no saber.
d) Um Pai perfeito infinitamente superior aos pais humanos poderia abrir possibilidade para amá-lo, obedecê-lo, respeitá-lo ou não, o que supõe no mínimo a consciência clara de sua existência. Como amar, respeitar ou obedecer alguém que ao contrário dos pais humanos nem sequer tem- se prova concreta de sua existência?
e) Concluir a existência de alguém deduzindo-a de "escritos sagrados"(deveras contraditórios uns com os outros e está ai a diversidade de religiões refletindo isso) ou da natureza imperfeita e por vezes até imprevisível é no mínimo insensatez.
2. A contradição de explicar com o inexplicável.
A maior força da crença em Deus e do domínio das religiões é justamente a possibilidade de explicar o mundo, a vida e o pensamento.
A pergunta é- de que valem essas explicações se Deus por definição é inexplicável?Em outras palavras, que é a religião do que uma tentativa de explicação de uma coisa que não compreendemos através de alguma coisa que compreendemos menos ainda(Deus)?
Não conseguimos explicar tudo, e isso até os ateus admitem, o problema é tentar utilizar esse "mistério" do mundo acercando-se de explicações religiosas dogmáticas, cujo fundamento é o próprio inexplicável. Enfim, as explicações buscadas pelos religiosos giram em torno de antropormofismos de um Deus que cria o homem a "sua imagem e semelhança". E como dizia Voltaire - "se Deus nos fez à sua imagem nós o reproduzimos muitos bem". O universo e a própria vida são bem mais profundos do que a Bíblia ou o Corão possam "revelar".
3.O argumento do mal
O mal no mundo é incoerente com a idéia de um Deus absolutamente bom e onipotente. O mal é uma objeção mais forte contra a fé do que o bem contra o ateísmo. Como dizia Epicuro: "se Deus quer eliminar o mal e não consegue, ele não é onipotente; se Deus consegue eliminar o mal e não quer, ele não é perfeitamente bom; mas se ele não quer e nem pode eliminar o mal, não é mais Deus."
Como aceitar um Deus que se esconde diante de tantas atrocidades, guerras e mortes? Se não aceitamos tal comportamento covarde dos pais humanos como aceitar de alguém que deveria em teoria ser perfeito amor?
4. O efeito e a causa
A humanidade é algo muito pequeno para ser conseqüência de alguém tão grande. Como dizia Pascal por todo lado temos mediocridade demais, baixeza demais, miséria demais, e grandeza de menos. A humanidade é uma criação tão irrisória, como que um Deus poderia querer isso?
Os teístas se orgulham narcisicamente em sua crença, como se fossem mais do que de fato são, infudem todas as ações de Deus em torno de si mesmos, como se a razão da "existência" de Deus fossem eles mesmos!!!Não teríamos ai em evidência da idéia de que na verdade o homem criou Deus?
Em contrapartida o ateísmo é uma forma de humildade. É considerar-se um animal que somos, e deixar-nos o encargo de nos tornar humanos.
5. Deus é tanto menos verossímil quanto mais é desejável.
Que desejamos acima de tudo? Não morrer, reencontrar os seres queridos que perdemos, ser amados. E o que diz a religião? Quais desejos justamente ela satisfaz? Crer em Deus é crer num Papai Noel na potência infinita. A crença é por demais cômoda para ser verdadeira.